Parece que ainda há pessoas com dúvidas relativamente às questões que têm sido colocadas e ao trabalho que a Fundação Buçaco tem desenvolvido.
Vamos então fazer uma síntese. Agradeço que, se encontrarem alguma coisa do que escreverei que não seja verdadeiro, deixem o respectivo reparo.
1 - As iniciativas na Mata, não passam de fantochadas e propagandismo, com especial relevância para a promoção pessoal do seu presidente nos órgãos de comunicação social, com vista a um salto para cargo de maior relevo.
A adopção da Via Sacra e do Natal como principais pacotes e marcas da Mata revela bem o carácter de desprezo e a falta de visão estratégica para com o património vegetal.
Chama-se Mata Nacional do Buçaco precisamente devido à importância no aspecto vegetal e, concretamente, arbóreo.
A Via Sacra realizada na Mata revelou claramente que o percurso não é adequado a celebrações como as que foram feitas, com muita gente ao monte e falta de condições de visita. Aquele espaço é caracterizado pelo silêncio e pela introspecção e o que foi feito é precisamente o contrário disso. A promoção da Via Sacra deveria defini-la de acordo com o que são as suas virtudes e aptidões e não através da descaracterização.
A celebração do dia da Floresta fez com que se plantassem árvores de várias espécies, umas em cima das outras, sem planeamento e em locais totalmente desadequados face a algumas das espécies. Depois ninguém se interessou pela sua manutenção e com a rega, tão importante. Não interessa! O que conta é que andaram lá não sei quantas pessoas e que se venderam uns cedros dentro de umas caixinhas que a CMMealhada pagou. O resto são cantigas.
A exposição da Casa do Benfica no Convento foi um sucesso. As pessoas que pagaram para visitar aquele espaço naquele período ficaram bastante comovidas por ver um local de culto, sagrado e com tanta história, enfeitado com cachecóis e outros símbolos do Benfica (ainda se fosse do meu Sporting, ao menos era verde como a Mata!).
O Natal na Mata, trouxe-nos um Carmelita no cadeirão, mesmo à entrada do Convento, algo perfeitamente típico dos frades Carmelitas. Logo eles que tanto amavam a integração com a natureza, o desprendimento de bens materiais e o minimalismo.
Mas trouxe-nos também o Madeiro de Natal, perfeitamente típico desta zona do país. Uma pilha de lenha com 3 metros de altura, mesmo ao lado de um hotel de 5 estrelas cujos hóspedes procuraram precisamente pela oportunidade única de levar com umas golfadas de fumo.
Mas, mais importante, ao lado de uma área de vegetação que ficaria completamente "assada" pelo calor de uma fogueira com aquela envergadura, já para não falar no risco de incêndio e, sobretudo, pela pedagogia. Num dia celebra-se o dia do Ambiente e o dia da Árvore, no outro queima-se madeira no interior de uma mata por simples desporto e ainda se convidam as pessoas a vir assistir... numa noite de Natal, em que as pessoas querem é reunir-se em família, nas suas casas. Coerência, visão e estratégia impressionantes.
O presépio ao vivo também foi uma loucura! Milhares de pessoas, dispostas a pagar 5 euros para entrar na mata e ver 4 barracas da feira com um gajo a fazer sapatos e outro de volta de umas latas. Lá pelo meio, havia uns desgraçados a olhar para um nenuco que nem vestido a rigor estava. Depois passam isto na televisão com 3 gaiteiros a tocar por fundo como se estivéssemos perante uma iniciativa de classe, dignidade e grande importância. O propagandismo e os contactos politica/comunicação-social não têm limite.
Mas o melhor e já bastante falado (felizmente) é a gestão florestal feita pela Nora do Cabral e pelo Raul Aguiar, duas pessoas bastante experientes na matéria que se calhar nunca estiveram dentro de um pinhal, quanto mais gerir uma Mata Nacional.
A título de exemplo:
- Raul Aguiar mandou cortar um Buxo-arbóreo junto ao Calvário, espécie que demora (muitas) décadas a atingir este porte, porque estaria a "tirar vista" à Ermida!!!!
- Cortaram várias árvores no Vale dos Fetos, permitindo a entrada de luz e calor numa zona que necessita absolutamente de fresquidão, sombra e humidade. Vamos ver as consequências que isto trará nos próximos anos.
- Estão a fazer o serviço vergonhoso de abate dos pinheiros na Zona da Porta das Ameias, encosta do Cruzeiro, Porta do Serpa e Encosta do Sol, destruindo tudo, deixando as ramagens espalhadas e cortando árvores de outras espécies.
- A limpeza que foi feita na barreira junto da porta das Ameias, cortando toda a vegetação semi-arbustiva e herbácea, permite a entrada de luz e consequente ataque futuro das acácias (ainda pior que na plataforma do outro lado da estrada, por cima).
Não arranjam caminhos, não beneficiam sanitários, não colocam sinalização, não criam um serviço visível e eficiente de atendimento ao visitante, querem colocar portagens electrónicas nas entradas cujo atendimento será muito mais personalizado (é bom que as coloquem que servirão bastante de mealheiro de alguns), não concessionam o Palace, não atribuem funções às casas de guarda, concessionando para evitar custos!
Afinal o que é que estão lá a fazer? A cobrar as entradas para sustentar as panças, nitidamente!!!
A Mata tem de ser valorizada, divulgada e promovida pelo que lhe é intrínseco e não por artificialismos importados de Penela (presépio ao vivo) ou de Óbidos (Vila Natal) ou de Braga (Via Sacra). A mata é valiosa por si! Não precisamos de andar a imitar nada nem ninguém, tem de se demarcar pela diferença porque estas actividadezecas, são como as cópias chinesas dos Ferraris que, quando se olha de longe até engana, mas basta aproximarmo-nos para perceber que são de plástico, o motor tem 40 cavalos em vez dos 400 e não têm alma nem carisma.
Só não vê quem não quer e, acreditem ou não, é com mágoa que faço esta análise que, poderão entender como destrutiva ou tendenciosa mas é sincera, sem pretenciosismos, desinteressada e com o intuito de quem de direito verificar qual o caminho que segue e se não haverá aqui uma necessidade de arrepiar caminho e pensar, efectivamente, numa estratégia e rumo adequado para a Mata Nacional do Buçaco, que não é a aldeia das construções do Buçaco.