UMA VISÃO ERRADA DE PORTUGAL É PROPOSITADAMENTE PROPAGANDEADA PELO ESTADO ESPANHOL
Madrid e Lisboa são, oficialmente, "bons amigos"... Mas o que é que se esconde por trás da felicidade "extrema"? Várias personalidades do Estado, do regime e do Governo de Espanha declararam, recentemente, que as relações com Portugal "são melhores do que nunca".Será uma verdade. Mas com segundos sentidos. Ninguém de bom senso pode negar que Portugal precisa de se organizar, com Espanha, em muitas alíneas da vida comum. Ocorrem logo as questões de Olivença, da segurança, das emergências, das ligações rodoviárias, dos canais diplomáticos, dos recursos naturais. E há, claramente, várias ocasiões em que a entrada de empresas espanholas no mercado português, e portuguesas no mercado espanhol, são naturais e benéficas. Não há ainda, desde o fim da "GUERRA DAS LARANJAS", e sobretudo desde 1945, qualquer contencioso militar ou territorial, se exceptuarmos a importante questão de OLIVENÇA. Por um lado, esta NÃO É UMA BIZARRIA DE DOIDOS, MAS UM PROBLEMA DE DIREITO INTERNACIONAL. Por outro, não é uma pequena questão, ou um detalhe simbólico: apesar disso, e por cobardia, ninguém na Primeira República, ou noEstado Novo, propôs a resolução pelo sangue ou pela espada, o que é significativo. Mas dito isto, não se pode ignorar que existe, na Espanha oficial, um problema para Portugal. É evidente que, nos meios oficiais e culturais de Madrid, incluindo aqueles que promovem os currículos escolares, existe um "complexo português". Muitas gerações espanholas estudaram a história universal, induzidas no erro de que a independência portuguesa começou em 1640 e não a meio do século XII, séculos antes da existência da Espanha como país. E muitos aprenderam que essa independência (não Restauração) só foi possível porque o império espanhol teve de optar, e precisou de esmagar, no ovo, a insurreição na Catalunha. A história lusitana surge assim desfocada e diminuída para tentar negar o complexo espanhol: esfumam-se a revolução nacional que leva a Aljubarrota, a divisão geopolítica de Tordesilhas, a via diferente nos Descobrimentos, o Renascimento português, a ausência de feudalismo, o destino próprio face ao Norte de África, onde os espanhóis roubaram as possessões portuguesas.
Alguns "teóricos" chegam a sugerir que a Al-Qaeda ameaça igualmente Portugal e Espanha, por causa do "passado comum". Essa desfocagem e diminuição possuem consequências: Portugal surge como uma Nação pouco sedimentada, algo artificial, baptizada pela desorganização, e por uma certa excentricidade. Para muitos espanhóis de "boa-fé", Lisboa só tomou rumo com os fundos comunitários, e depende deles para se manter em ordem.Quando o vice-presidente da Catalunha, Josep Luís Carod-Rovira,explica que uma certa Espanha neo imperial nunca se reconciliou com a ideia de um Portugal independente, limita-se a frisar uma evidência tão verdadeira como o facto de a Catalunha nunca ter perdido o desejo da independência. Quando 25 mil pessoas protestam, em Santiago de Compostela, contra a misteriosa "proibição" de emissão televisiva em português, ou quando clamam pelo reconhecimento do galego como "português internacional", causam ondas. O estado espanhol vê com terror uma maior aproximação entre a Galiza e Portugal.Claro que não se pode confundir o problema espanhol em lidar com a sua identidade em desagregação, com a necessidade de os dois países continuarem "bons" amigos. Mas nenhuma boa amizade resiste à estupidez de uma das partes. Não é Portugal o idiota da aldeia!...
(Artigo original de Luso Conde - MSN LUSITANIA)