terça-feira, 6 de maio de 2008

Da crueldade

O chamado 'mundo ocidental' está aterrorizado com a crise nos cereais e a possibilidade de fome entre portas. Os Outros podem morrer por inanição. Mas Nós não.

4 comentários:

Lucius Licinius Lucullus disse...

Pior se torna quando sabemos que se está a tirar da boca dos famintos para meter nos depósitos dos automóveis.
Filhos da Puta!
(ainda bem que o amoteluso não permite comentários anónimos, senão tinha já aí os micropenianos anónimos a clamarem por censura aos palavrões do Lucius)

Afroluso disse...

Botânico Jorge Paiva rejeita biocombustíveis
05-Mai-2008
"A produção de biocombustíveis deve ser abandonada", declarou à agência Lusa Jorge Paiva, botânico, ambientalista e catedrático aposentado da Universidade de Coimbra.
O botânico, que rejeita a produção de combustíveis a partir dos cereais, por ameaçar a alimentação humana no mundo, considera que as multinacionais apostam na produção de cereais com fins energéticos, porque querem "ganhar mais dinheiro".
Para Jorge Paiva os biocombustíveis "não são alternativa ao petróleo" e "não vão resolver o problema do aquecimento global, uma vez que libertam na mesma dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera". O biólogo considera por outro lado que a opção pelos biocombustíveis "é brutalmente prejudicial" para a subsistência da Humanidade, ao concorrer com o uso de cereais na alimentação.

Jorge Paiva critica "a sociedade economicista e as grandes companhias mundiais, a quem interessa em especial o lucro" e afirma que as multinacionais "descobriram que é mais barato, talvez, produzir combustíveis a partir de plantas. E, como isso dá lucro, subiram os preços dos alimentos".

Na opinião do botânico "deve ser abandonada a produção de biocombustíveis", baseada na transformação de cereais, sendo necessário que os estados tomem medidas para reduzir os gastos de energia. Jorge Paiva entende, no entanto, que deve ser incentivada a produção de energia através do reaproveitamento de resíduos orgânicos urbanos, agrícolas e florestais.

pirandello disse...

Hoje toda a gente concorda com as vantagens dos biocombustíveis especialmente no que respeita à conservação do ambiente.
Mas que biocombustíveis? Segundo alguns técnicos internacionais e também alguns nacionais ligados ao meio académico, falam em biocombustíveis de segunda geração.
Os biocombustíveis de segunda geração serão então aqueles resultantes do reaproveitamento de resíduos orgânicos urbanos, agrícolas e florestais. Mais do que nunca o conceito de reciclagem está na ordem do dia.
A obtenção de biocombustíveis de segunda geração levou já alguns técnicos a sugerirem a utilização de solos de menor qualidade para a prática agrícola ou abandonados, para a produção de matéria prima a partir de espécies não antropicas (não utilizadas pelo homem para a sua alimentação) exclusivamente para esta actividade. Neste caso deve ser levado em conta o impacto económico, capaz de seduzir os agricultores abdicarem da produção das espécies tradicionais, e aí teremos o mesmo problema, e ainda, as alterações no território com impacto na erosão desses solos e alterações nos habitates naturais.

D'artagnan disse...

A questão é, a meu ver, ainda mais complexa:

1 - A maior parte da produção mundial de petróleo e gás natural encontra-se em países com baixa aptidão agrícola, que assim importam a maior parte do seu consumo alimentar.

2 - A maior parte da produção mundial agrícola encontra-se nas mãos do "dito" mundo ocidental que é, "por coincidência", grande consumidor de petróleo.

3 - outrora "não alinhados" ou "anões políticos", China e India estão a despertar para o desenvolvimento que seria natural que conseguissem, aumentam o seu rendimento e nível de vida e mudam de hábitos alimentares e de consumo de combustíveis, desequilibrando simultâneamente o mercado alimentar e do petróleo. Bom... pelo menos a fome está em regressão nestes países.

4 - Face ao enorme endividamento dos EUA, derivado dos "esforços" de guerra, financiados à conta de créditos internacionais justamente financiados no extremo oriente (China, Taiwan, Singapura),o dólar encontra-se em queda o que faz que quer os produtores do sector agrícola, quer os produtores do sector do petróleo, se vejam forçados a aumentar o seu preço em dólares para fazer face à quebra do valor cambial.

5 - Quem é que se "lixa" no meio da "guerra do século XXI"?... justamente aqueles que não fazem parte nem de um nem de outro bloco (como África, algumas zonas da América Latina, Oceania, etc).

6 - O refúgio em divisas de referência como o Euro, aumenta o seu valor face ao dólar, permitindo atenuar (não se sabe até quando) os efeitos do aumento dos preços do petróleo e cereais.

7 - De acordo com a "lei de King", a inelasticidade do consumo de bens agrícolas, justifica a criação de subsídios para a "não-agricultura" e pousio, o que cria reservas estratégias ao nível Europeu, que permitirão (se tal se revelar necessário num futuro próximo), forçar a OPEP a anular o incremento especulativo do preço internacional do petróleo que tanto enriquece meia dúzia de famílias no mundo, e deixa na penúria milhões de seres humanos.

Touché...