terça-feira, 3 de junho de 2008

Sobre Materiais de Construção

Assumindo como premissa básica o facto de não perceber aquilo que gostaria sobre arquitectura, engenharia e paisagismo, não consegui resistir ao repto lançado pelo nosso amigo pindarello no post anterior e sendo assim, resolvi escrever algumas patacoadas sobre o assunto, já que toda a gente o faz.

Relativamente às rochas utilizadas, verifica-se o seguinte:

1 - De facto as barreiras são de xisto que é uma derivação do calcário por pressão e compactação.

2 - De facto o quartzo é a barreira impermeável que faz com que a água só aflore nos pontos em que tem falhas.

3 - De facto o palace e outras casas são construidas com elementos de calcário vindos de Ancã.

4 - De facto, quer a fonte de 1955 quer a última eram ornamentadas com elementos de calcário.

Verifica-se igualmente que:

5 - O ph e a hipossalinidade da água é altamente corrosivo com o calcário, facto patente quer na fonte de 1955 quer na última, causando uma rápida degradação dos elementos, inclusivamente do betão armado.

6 - Tecnicamente, a rocha que mais se adapta para suportar o desgaste que a água do luso causa sobre o calcário, é o granito.

7 - Em termos de xisto, veja-se a vergonha que se passa na "Alameda da Cidade" na Mealhada, com a rápida degradação do revestimento dos muros.

8 - Desconheço a utilização directa de quartzo na construção, mas se não estou enganado é uma das componentes do granito.

9 - Enquanto elemento natural, o Bussaco é de formação granítica, apesar de a tradição arquitectónica local, não o utilizar como elemento decorativo.

Por tudo isto, não me ofende de todo a utilização do granito como elemento de construção. Aquilo que me deixa perplexo é que sejam mantidos os antigos revestimentos de calcário na zona da Fonte, elementos esses que depressa se degradarão por força da água.

Quanto à oportunidade estética de um "muro das lamentações" acompanhado por dois "bebedouros para os bois" é algo que não discuto, uma vez que se trata apenas de uma opinião estética. E como toda a gente sabe, as opiniões são tantas como as cabeças que as pensam.

Por outro lado, continuo sem entender, e até agora ninguém me conseguiu explicar, a oportunidade dos timmings seguidos, bem como a necessidade "de facto" deste tipo de obras. Mas tal como diz o pindarello, no meio da minha "mediocridade" também deve existir algo de "incapacidade de compreensão".



É óbvio que este post, não vai mudar em nada aquilo que está a ser construido. A minha geração não é tida nem achada em nada do que se faz nesta terra.... bom, pelo menos por enquanto.

11 comentários:

Gutenberg disse...

Na minha opinião o que me chateia não são os muros, os "bebedouros" ou a pedra utilizada! Chateia-me mais que se ande a brincar às obras, coloca-se uma pedra que afinal não deveria ter este acabamento, é "picada" a pedra para resolver mas, mesmo assim, não é o acabamento desejado pelo arquitecto... solução? carrega-se toda a pedra não aplicada para substituir e a obra continua parada por tempo indefinido, enquanto nós (lusenses) continuamos impávidos e serenos!

Não será isto abusar da nossa paciência???

Urtigão disse...

Aparentemente não caro Gutenberg. A paciência dos lusenses tem limites inimagináveis.

Gostei do post, muito educativo não deixande de levantar questões pertinentes.
De facto o Bussaco é de formação granitíca como demonstram as cristas visiveis perto da Cruz Alta. Já agora só para esclarecer, os granitos são constituídos, essencialmente, por minerais como o quartzo, micas e feldspatos.

D'artagnan disse...

Obrigado pelo esclarecimento, Urtigão. De facto tinha ideia (mas não a certeza) sobre o quartzo fazer parte do granito.

pirandello disse...

Meus caros, permitam que discorde de V.Ex.as.
A Serra do Buçaco é uma crista quartzitica à semelhança de outras em Portugal e todas com a orientação noroeste sudeste. É formada por rochas quartziticas e denominam-se rochas metamorficas e nada tem a ver com rochas graniticas.
O relevo granitico mais próximo de nós começa na zona de Santa Comba e estas rochas designam-se por rochas magmáticas. Estas designações tem a ver com a com o processo de formação.
Espero que quanto a isto V.Ex.as. fiquem esclarecidos.
Quanto à utilização do calcário, a sua dissolução acontece especialmente quando em contacto com águas ricas em dioxido de carbono.
Se este argumento fosse válido o que seria de toda a monumentalidade que existe no nosso país especialmente aquele que se encontra no modelado carsico e que vai de Aveiro até Setúbal e ainda o Algarve.
Atrevo-me a sugerir que o principal problema não passará pelos materiais e o seu enquadramento. No meu modesto entendimento o problema assenta nas mentalidades e como estas são difíceis de mudar alguma coisa deverá mudar.

D'artagnan disse...

Mas, tens de concordar que a água da Fonte de S. João "derrete" completamente (como diz o Charabaneco) as pedras junto às bicas.

D'artagnan disse...

Não pindarello, "nossas" excelências não estamos esclarecidos. Fiz um bocadito de investigação e encontrei na carta geolócica de Portugal algo interessante justamente sobre a formação rochosa da área. Dá uma vista de olhos no post com a foto. :-))))

D'artagnan disse...

Já agora, só mais uma coisa: o calcário, maioritariamente constituido por carbonato de calcio (CaCO3) é em si rico em carbono. As águas ricas em carbono, designadas também de águas duras, são águas que precipitam calcário, facto visivel nomeadamente, nas máquinas de lavar e outras maquinarias ao sul do Mondego. De facto, adiciona-se CO2 à água potavel para consumo humano, de modo a criar uma reacção quimica que crie uma fina camada de calcio, de modo a protejer as tubagens contra a corrosão.
Não entendo como podem ser mais corrosivas sobre o calcário do que uma água hipossalina com um ph ácido (5.6) como a água de Luso.

pirandello disse...

V.Exa. insiste, insiste, insiste!!!
Pouco faltará para o que digo seja uma pura mentira.
Apenas lhe digo que consulte o livro "Portugal Central" de Orlando Ribeiro ou então o Dr. Fernando Rebelo,antigo reitor e docente da cadeira Geografia Fisica de Portugal.
E sobre a parte final do post, não lhe merece nenhum comentário?

D'artagnan disse...

Claro que insisto :-)))))
Toda a gente sabe que eu adoro uma boa discussão.

Dei-me ao trabalho de ir investigar antes de escrever. Não tenho acesso aos livros que recomendas mas, não acredito que possa ser contraditório com as fontes oficiais do Estado.... bom, adiante. Podes ficar com a bicicleta, uma vez que já estás a ficar exaltado. Ficas com a bicicleta, mas não com a razão :-)))) porque isso são outros quinhentos.

Quanto ao "GARNITO" (e não "granito"), já disse e repito: trata-se de uma questão de gosto que não discuto.

Quanto a mudar mentalidades, era mais facíl o palace ter rodas.

pirandello disse...

Pois, pois!
Grande teoria. Entretanto uns quantos vão pondo e dispondo a seu belo prazer.Porque é apenas a seu belo prazer.

D'artagnan disse...

Ontem, um eminente membro do PS, acusou o governo de "surdez" relativamente à população. Atrevo-me a dizer que esse tipo de atitude é capaz de ser como a "influenza": propaga-se facilmente dentro de grupos.