Politiquinhos de trazer por casa
“Intelectuais portuguesas impressionam pela sua profundidade de ideias.”
Em situações normais deixaria passar a má provocação e o mau gosto da generalização da frase, mas, atendendo ao autor, neste caso não o farei. Em ressalva prévia, fica desde já esclarecido que o meu pensamento sobre o género não é tecido por qualquer tipo de sexismo, seja ele de que inspiração for.
O autor desta frase, o senhor Breda Marques (no seu blogue contra-corrente), utiliza-a para legendar duas imagens com respectivas frases proferidas, de Lili Caneças e da deputada Ana Drago, significando isto duas coisas: por um lado, que este senhor considera como representantes das mulheres intelectuais portuguesas ambas, o que só por si é prenúncio de qualquer autismo; por outro, com esta generalização, quer dizer que as mulheres portuguesas são destituídas de reflexão, o que não só revela ignorância sobre a história portuguesa, como sublinha a sua misoginia.
Quando, há um tempo, soube do tipo de argumentação usada pelo PSD Mealhada para confrontar Filomena Pinheiro, depois de passada a minha incredulidade - porque estou à espera desse tipo de discurso de taberna em gente mal-formada e não em políticos - questionei sobre a defesa dos pares de Filomena Pinheiro e lamentei o facto de chegar à conclusão que o PS, em situações análogas, se comportaria da mesma forma.
Em situações normais deixaria passar a má provocação e o mau gosto da generalização da frase, mas, atendendo ao autor, neste caso não o farei. Em ressalva prévia, fica desde já esclarecido que o meu pensamento sobre o género não é tecido por qualquer tipo de sexismo, seja ele de que inspiração for.
O autor desta frase, o senhor Breda Marques (no seu blogue contra-corrente), utiliza-a para legendar duas imagens com respectivas frases proferidas, de Lili Caneças e da deputada Ana Drago, significando isto duas coisas: por um lado, que este senhor considera como representantes das mulheres intelectuais portuguesas ambas, o que só por si é prenúncio de qualquer autismo; por outro, com esta generalização, quer dizer que as mulheres portuguesas são destituídas de reflexão, o que não só revela ignorância sobre a história portuguesa, como sublinha a sua misoginia.
Quando, há um tempo, soube do tipo de argumentação usada pelo PSD Mealhada para confrontar Filomena Pinheiro, depois de passada a minha incredulidade - porque estou à espera desse tipo de discurso de taberna em gente mal-formada e não em políticos - questionei sobre a defesa dos pares de Filomena Pinheiro e lamentei o facto de chegar à conclusão que o PS, em situações análogas, se comportaria da mesma forma.
É velho o discurso da masculinização da política, que, à semelhança dos clubes de “cavalheiros”, impede a todo o custo a entrada de mulheres como pares. Mulheres com poder, parece, só mesmo em fetiches bondage, para sublimar, provavelmente, uma infância com uma mãe severa.
Felizmente, um pouco por todo o mundo, esta pseudo-virilidade encontrada no poder político que mima o ego de tanto homenzinho (e não de todos, haja esperança!), as coisas estão a mudar, existindo cada vez mais mulheres na política e em cargos de decisão, mulheres normais– e isto deve doer aos homenzinhos, que gostam de pensar as mulheres com poder e inteligência como camafeus de bigode, barba, cabelo curto, deslavadas e provavelmente “com falta de peso”(foram assim retratadas as feministas, as homossexuais e, agora, as políticas). Tal facto não se deve a que as mulheres, pelo simples facto de o serem, sejam superiores, obviamente; da mesma forma que os homens, na mesma medida, também não o são; mas é um processo natural de cidadania com base no mérito, já que são cada vez mais as mulheres que acabam o ensino superior, acesso ao qual tem por trás anos de luta. Este é o bê-á-bá da democracia, “senhor” Breda.
Há 33 anos só 25 em 100 estudantes universitários eram mulheres; hoje 53 em 100 são mulheres na população universitária, prevendo-se, em 2015, 65%. Hoje, para dar um exemplo, temos 40% de médicas, em 2015 cerca de 55%. De 1973 a 2005 houve um decréscimo de 30% de homens no ensino superior.
Numa coisa, no entanto, o senhor Breda Marques representativo do senso comum: não há, de facto, grande visibilidade mediática destas mulheres, muito porque sabem que na sociedade machista em que vivemos os argumentos destes homenzinhos, de que é exemplo Breda Marques, resvalam no machismo pegajoso e bacoco, tal é o embaraço de admitir que há mulheres mais inteligentes (penso, inclusive, que nestas cabeças é um paradoxo conceptual o conceito de mulher e o conceito de inteligência).
“Senhor” Breda Marques, que o senhor não esteja a par da intelectualidade portuguesa é lamentável mas (quase) compreensível; que o senhor considere as mulheres inferiores é mais lamentável mas desculpável pelo peso da cultura retrógrada que provavelmente o formou; agora que o senhor tenha a lata e o despudor de o assumir, enquanto político (arte nobre) que quer ser, revela, além de tudo o resto, burrice tacanha. É lamentável e confrangedor.
9 comentários:
e mais nada...
Mas não foi este senhor que escolheu a Fátima (de Trezoi) para candidata pelo PSD à JFL???
Cara Lua de Mel
Sempre que tenho oportunidade tento ler o blog amoteluso mas pela primeira vez vou fazer um comentário.
Apenas para lhe dar uma pequena explicação: O post que tenho no conta-corrente tratou-se apenas de uma pequena provocação ou brincadeira e nada mais do que isso. E quando na política como na vida estivermos impedidos de procurar ter algum sentido de humor é muito mau sinal.
Não percebo como pode interpretar o meu pensamento sobre as mulheres apenas com base num post, onde, inclusivamente a frase usada já vinha na foto. Foto enviada por uma amiga que me sugeriu que a colocasse no meu blog por ela própria entender que tinha graça.
Pode até não achar graça, no entanto acho pouco natural que se sirva deste post para me dirigir palavras tão ofensivas.
Não preciso certamente de lhe dizer que sempre trabalhei com mulheres e nunca tive qualquer tipo de discriminação.
O grau de ofensa é proporcional.
Humor é diferente de piada fácil e de mau gosto (e sim, os gostos discutem-se).
Também recebo e-mails ofensivos a etnias, a pessoas deformadas, pobres, etc., e nem por isso, apesar da pilhéria que alguns neles encontram, não os coloco publicamente (eu, que até uso nick e não tenho ambições políticas).
O facto de lhe ter sido enviado por uma mulher, não é, como sabe, atenuante.
Lua de Mel existe por a� recalcamento.
O Post do conta-corrente n�o parece ofender ningu�m.
S�o duas frases infelizes ditas em publico por duas mulheres publicas.
Ao dizeres que a ofensa � proporcional s� d�s raz�o ao Breda Marques porque tu realmente � que esticaste a corda.
Eu tb n�o gosto dele.
Cara camila (antes de mais, seja bem-vinda), se ler com atenção o que escrevi verá que a ofensa, enquanto cidadã, não se encontra nas frases proferidas pela Caneças e pela Ana Drago, mas na legenda que as suporta, onde se diz do calibre das mulheres intelectuais portuguesas. A brejeirice de taberna e vão de escada é apanágio de todos, lamentável e ridículo é ser subscrito por um político. E se a senhora (assumindo eu q por trás do nick está uma) não se sente ofendida, estará no seu direito, direito esse que deve a muitas mulheres que por ele lutaram.
Como também escrevo no post, teria ficado calada perante isto, não fora o caso de o post ser de quem é, que tem responsabilidade na promoção dos valores que sustentam a nossa democracia. Diga-me: se fosse um Eusébio e um BossAc a proferir estas frases, com a legenda análoga "os intelectuais negros impressionam pela sua profundidade de ideias", também acharia que tal chalaça é digna de um político? Compreende onde está o problema?
Quanto a recalcamentos podia ser paranóica e dizer-lhe que tal conceito tem a sua máxima paternidade em Freud, que era um machista. Isto sim, minha cara camila, era ser paranóica e ter sintomas de recalcamento.
Quanto à sua última frase, foi uma boa tentativa de retórica em querer fazer parecer que o que realmente motivou o tom do meu post foi um problema de empatia. Minha senhora, já não tenho idade nem paciência para esse tipo de retórica fundada em teorias da conspiração e vitimizações.
Mulheres e homens são seres diferentes que o percurso da vida tende a comparar.
Em termos práticos, deve considerar-se igual o que é igual e diferente o que é diferente.
Da soma de todos os factores, é cada vez mais dificil encontrar as tão propaladas supremacias masculinas. É um facto que do ponto de vista físico, o macho humano se sobrepõe à femea, mas é tambem um facto indesmentível que, se dependessemos dos musculos ainda estariamos a viver nas cavernas.
Por isso, é sempre com tristeza que vejo as mulheres quererem ser iguais aos homens: é um retrocesso civilizacional imenso.
Cari vercingetorix, concordo com a posição sobre as diferenças, contudo não compreendi onde quer chegar com a sua última frase. Não quer explicitar?
A ultima fase complementa o todo da ideia e não se resume nem ao post nem aos comentários.
Tem a ver com um certo tipo de feministas que buscam em certos tipos de igualdades alguns tiques de machismo e que culminam naqueles estereótipos da mulher de bigode e pelos no sovaco a fumar cachimbo que fez e ainda faz as delícias de certos machistas empedernidos.
Acho que as mulheres, se podem facilmente ser melhores que os homens, perdem tempo ao quererem ser iguais.
Igualdade de direitos, de deveres e de oportunidades. Jamais igualdade de géneros.
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