terça-feira, 6 de novembro de 2007

Ainda sobre a manifestação na Alcides Branco

Já agora, gostaria de partilhar alguns pensamentos que me ocorreram durante a manifestação e que me parecem pertinentes.

1- alguns populares, na defesa dos seus próprios interesses, pareciam estar convencidos que o objectivo poderia vir a ser o de fechar a fábrica. Parece-me a mim, que isso só estaria em causa se não houvesse solução para os problemas. Uma vez que há, é uma questão que nem sequer se coloca. Fechar uma fábrica, mesmo que incomodativa, é por certo, contrário ao desenvolvimento económico das populações e terras. Mas uma vez mais, há que perguntar: com que direito alguns podem prejudicar livremente e com a conivência e apoio de algumas autoridades (nomeadamente a nível de estágios políticos mais elevados e centrais) as actividades económicas dos outros?

2 - A presença do Presidente da Câmara foi aproveitada para aflorar outras questões em tom que roçou o da má educação e/ou vontade de evidência perante o grupo ali reunido. Independentemente de os assuntos abordados serem ou não importantes, não era o local nem o tom para tais comentários. Organizem-se outras manifestações para aflorar esses problemas.

3 - Tal como disse um velho amigo meu, se alguém não concorda com a manifestação, que organize uma contra-manifestação. É assim que se organiza um estado de direito democrático. Não tentem "torpedear" o legítimo direito à indignação e à expressão democrática dessa mesma indignação.

4 - Confesso que fiquei surpreso com a coragem dos donos da Alcides Branco ao saírem para falar com a manifestação, mas só isso! O Sr. Alcides Branco, nunca cumpriu nenhum dos prazos auto-impostos e, sendo assim, não vejo porque vá agora cumprir. É MENTIRA, e agora já tenho provas legais e documentais disso, que os fumos sejam vapor de água! Se se mente uma vez, quem nos garante que não se mente sempre?

5 - Ao longo da minha vida, aprendi a desconfiar quer das pessoas que se estão sempre a rir quer das pessoas que estão sempre calmas. São dois métodos de falsificação e subterfúgio do pensamento, pois permitem não dizer o que realmente pensam e/ou disfarçar as emoções causadas pelo confronto de ideias e factos. Coisas próprias de um grande "calo" político que há que saber filtrar. Nada como uma fuga para a frente ou um bom "bluff" frente ao confronto: pelo menos sempre se vai ganhando tempo. E enquanto se ganha tempo, ganha-se dinheiro.

6 - Devo gabar a maior parte dos representantes políticos presentes (já disse o que tinha a dizer sobre o assunto num post anterior), pelo tacto demonstrado relativamente à questão turística e à sua interacção com a poluição atmosférica da Lusoliva. Para mal, já basta assim!

7 - Pelos vistos, está a organizar-se nova manifestação, desta vez, junto da CCDRC. Esperemos que corra melhor e que tenha maior impacto.

8 - Finalmente: desejo à firma Alcides Branco, a maior das felicidades económicas e uma vontade férrea em cumprir prazos e promessas. O aumento da qualidade dos métodos de fabrico, um completa interacção positiva com o meio, a responsabilidade ambiental e a excelência da marca, podem vir a ser boas armas comerciais num mundo cada vez mais globalizado. O que pensariam os clientes da Alcides Branco, se cada vez que procurassem algo na internet, apenas lhes aparecessem artigos e fotos sobre poluição? Ao invés disso, o que pensariam se, num futuro próximo, encontrassem a Alcides Branco, como um exemplo de responsabilidade ambiental e social? Aproveitar a imagem de pureza das águas, e pureza dos ares do Bussaco a favor da marca de óleos alimentares, será assim tão estúpido?

Touché...

4 comentários:

Jerico & Albardas, Lda. disse...

Caro D'Artagan.
Inicialmente também achei corajosa a atitude do Alcides Branco e filho.
Mas depois de digerir tudo o que se passou cheguei a conclusões bastante diferentes.
Senão vejamos:
O filho defende a fábrica insistindo na tecla INÓCUO. O fumo é vapor de água inócuo. O pó de baganha é inócuo.Apesar de não respeitarem os parâmetros legais nacionais, tudo é inócuo. Para o filho do Alcides Branco isso é que é importante. Ser inócuo.
Mesmo que os seus cheiros pestilentos inundem a região e entrem nas casas das pessoas, o importante é que são inócuos.
Mesmo que as poeiras lançadas pela fábrica encham os telhados e as culturas de Lameira de Santa Eufémia e as ribeiras de pó de baganha o importante é ser inócuo.
Em suma: A firma Alcides Branco entende que pode continuar a encher o bandulho e a peidar-se à vontade, que os outros têm de gramar o cheiro sem protestar, porque é inócuo.
A firma Alcides Branco entende que pode continuar a despejar pó de baganha em cima da cabeça das pessoas, porque é inócuo.

Pode ser inócuo (que não é), mas revela uma enorme insensibilidade e acima de tudo uma grande falta de respeito. Falta de respeito pelos direitos dos outros; Falta de respeito pelas culturas e casas, algumas delas dos próprios trabalhadores que laboram em espaços sujos e desarrumados e sem protecções adequadas contra todo aquele pó.
Além da falta de respeito, a Alcides Branco não tem palavra.

E percebi que o Alcides Branco e o filho não mostraram coragem. Mostraram astúcia e uma grande lata.
Só com uma grande lata é possível montar uma farsa constituída por uma anormal fila de camiões e vir ter com os manifestantes (ou vieram ter com a comunicação social?), com o ar mais inocente deste mundo, de quem aparenta nem perceber o porquê daquela contestação. Umas vitimas coitados. E inócuos.

Ana Sampaio disse...

Gostei

D'artagnan disse...

Jerico

O teu ponto de vista também me parece agora, o mais correcto.

lua-de-mel-lua-de-fel disse...

Concordo em pleno com o Jerico (parabéns!) e, quase completamente, com o post. Não foram as únicas pessoas a considerar com uma certa coragem atitude dos Brancos;mas, de, facto, vejamos que alternativas tinham. A verdade é que depois de tanto tempo a colocarem o seu melhor ar de acólitos em reuniões com os nossos políticos (e são tão convincentes na sua bonomia que até temos o representante da JFLB na manif - o único, se não estou enganada, a representá-la, a não ser que estivesse lá em nome pessoal enquanto cidadão, o que, neste caso, explicará a opção pelo silêncio, mas deixa-nos a lacuna da representação - a garantir a confiança na boa palavra educada destes senhores), não podiam deixar cair a máscara perante a opinião pública. Se o fizessem, as pessoas achariam que estavam com medo e que quem deve não teme e blá blá blá. A verdade, parece-me, é que se pode passar exactamente o contrário: eles temem mais do que julgamos e daí todo o aparato de camiões e retóricas falaciosas.

Eis três dos argumentos, além do inócuo que o Jerico tão bem apanhou, que quase me deram vontade de rebolar a rir.

1. argumento dos postos de trabalho e enriquecimento da população. Dizia Nuno Branco que esta fábrica emprega pessoas, cerca de 20 ou 30, e que nós não estamos a pensar nisso. Além dos disparate que é usar este argumento para defender o que está em causa, alguém acredita, na sua plena sanidade mental, que a estes senhores interessa a nobreza social de luta contra o desemprego? Ainda fiquei à espera que o seguinte rasgo de eloquência fosse o de dize r que a fábrica até tem prejuízo e podia abrir falência, mas estão ligados afectivamente a estes trabalhadores e preferem perder dinheiro a deixá-los. O aspecto pernicioso deste argumento que agradará a muitos populares é aquele que leva a q os países ricos depositem os seus lixos tóxicos nos países pobres, pagando-lhes uma ninharia e lixando-lhes os recursos naturais e a saúde. Numa empresa que não zela pela saúde dos trabalhadores (e duvido que pela sua segurança)não deixa de ser de aplaudir a cara-de-pau de Nuno Branco.
2. argumento "mas cacia também polui e deita mau cheiro mas aveiro é uma cidade desenvolvida". Saiu. um ou dois dias antes desta manif, não sei em que jornal, que aveiro está entre as cidades mais poluídas do país (com LX, Porto e Gaia, Guimarães, Coimbra). Já estamos um pouco mais longe dessa ideia que valeu durante tanto tempo de que o progresso implica necessariamente poluição. É mais fácil colocar esta dicotomia, porque as pessoas apressam-se logo a dizer "sim, sim, aveiro é muito mais desenvolvido" e de repente já parecem estar a dizer "aveiro é muito desenvolvido porque tem a poluição de cacia, ora, se queremos ser desenvolvidos, é normal termos uma fábrica poluente".
3. as águas, para onde nada despejam, estão, porque eles mandam fazer análises com muita regularidade, limpas. Estranho, a não ser que seja um desconhecimento meu deste tipo de meandros técnicos, é o facto de mandarem a água para um laboratório em... Espanha. Não eram estes senhores, que, há uns tempos, vieram dizer que estavam a cumprir as normas espanholas mas não as portuguesas?Faz todo o sentido, pois então, as análises serem feitas em Espanha.

Uma dúvida: quem avisou os Brancos desta manifestação, que souberam no próprio dia, poucas horas depois, em que ela foi agendada? Quem anda a fazer jogo duplo?