sábado, 9 de janeiro de 2010

Os vendedores de souvenirs


Introdução:

"Um dia, houve um individuo que, á frente do seu tempo e vendo o surgir de alguma procura por parte dos visitantes de um determinado local, resolveu tornar-se vendedor de Souvenirs. Não importava o que vendia e a que preço, já que era o único e isso era algo que o tornava especial. Isso permitiu-lhe tornar-se razoavelmente abastado, se comparado com a pobreza local generalizada.
(...)
Mais tarde, os vizinhos (coisa tão feia é a inveja!), vendo que se ganhava dinheiro sem esforço na venda de souvenirs, resolveram fazer o mesmo e montar um estaminé mesmo ao lado do visionário. A coisa até correu bem enquanto eram poucos e se conseguiam entender sobre os preços e sobre a atitude a ter com os turistas. O problema foi quando os habitantes das terras vizinhas, se resolveram lançar com igual fervor nesse tão novo e maravilhoso negócio dos souvenirs"

Romance:

"Até nem teria havido nenhum problema, não fosse a quantidade finita de potenciais clientes fazer com que um deles tivesse a ideia de fazer uma PROMOÇÃO! Parece estúpido, mas o facto é que houve alguém que inventou isto, não desconfiando que estava a iniciar um circulo vicioso com a sua atitude.
(...)
A concorrência entre vendedores foi de tal ordem que os preços acabaram por baixar até atingirem o ponto em que o lucro era zero, originando a falência de todos os vendedores de souvenirs"

Moral da História:

Quando, o poeta Antipatro de Sídon, entre os anos 150 a 120 a.C. , criou a primeira lista das 7 maravilhas do Mundo, foi de facto o visionário que abriu o "mercado das 7 maravilhas" e que, permaneceu inalterado durante cerca de 2000 anos. Com o desaparecimento físico da maioria dessas maravilhas, a sua procura tornou-se uma quimera poética, parecida com a da busca da Atlântida e tem rendido até aos dias de hoje, aos locais onde estariam localizadas, pequenas fortunas geradas pelo turismo, mesmo que seja só para visitar o local original da sua localização. Acontece que, com a globalização e a massificação social dos hábitos de viajar, isto começou a suscitar óbvias cobiças por parte de todos quantos, olhando para o seu próprio quintal das traseiras, julgam ter a categoria para o decretar "uma maravilha", para assim entrar no "mercado das maravilhas".

A formula tem tanto de falta de originalidade como de "bacoca" já que é votada pelos próprios. Ou seja, quanto mais bacocos existirem num local com acesso telefónico, mais possibilidades tem o seu quintal de ser declarado uma maravilha. Isto até nem seria muito mau, se acontecesse apenas uma vez por brincadeira, mas com a vulgarização do termo 7 maravilhas ou património da "não-sei-quantos" da humanidade, vai acontecer o efeito pernicioso de as pessoas deixarem de memorizar ou atribuir qualquer valor ao facto - uma espécie de falência do mercado.

Proponho um pequeno exercício mental que deverá ser feito com total auto respeito intelectual pelo próprio leitor que, deverá ser capaz de responder a todas as 4 perguntas sem pestanejar:

1º - Quais as 7 maravilhas do Mundo Antigo?
2º - Quais as 7 maravilhas do Mundo Moderno?
3º - Quais as 7 maravilhas de Portugal?
4º - Quais e quantas coisas estão declaradas património "não-sei-das-quantas" pela UNESCO?

Foi capaz de responder sem pesquisar, a alguma das 4 perguntas?...

Deixe-me adivinhar... conseguiu responder imediatamente apenas à primeira pergunta? E (se calhar) a imagem que ilustra o post contribuiu para esse facto?

Parabéns... bem vindo de volta à Terra!






Não se pretende com este post qualquer lição de moral ou dizer que (em si), é prejudicial a classificação como "maravilha" ou património da UNESCO. Pretende-se apenas dizer que, com a vulgarização destas duas terminologias, tenho sérias dúvidas se esse será o caminho a seguir para conseguirmos, em conjunto, promover o "nosso quintal das traseiras".

Andamos a cometer demasiados erros há demasiados anos.

Touché...

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