Dia do Pai

Ao meu Pai, agradeço-lhe a paciência e o amor. Agradeço-lhe, ainda: colocar-me os sapatos alinhados para não os calçar trocados quando ia para a escola (até à 4º classe!); de me pentear sem aleijar; de me ter carregado ao colo, debaixo de chuva e à noite, alguns quilómetros, depois de uma avaria no carro; dar-me a liberdade e responsabilidade de encher a casa de bicharada, desde os bichos-da-seda aos cães; de me ter ensinado a nadar no mar; de me ter feito uma fisga em madeira e couro, muito mais gira do que as dos meus amigos do bairro; de me ter perdoado ter estragado para sempre rádios e relógios antigos, na tentativa de os consertar; de ter deixado que o meu quarto fosse o meu reino; de me contar histórias para me dar lições de moral; de me ter protegido; de passear comigo; de estar sempre ao meu lado; de não exigir que fosse a melhor em tudo; ter fingido que não me ouvia descer as escadas a meio da noite para ir ver filmes; assistir com paciência infinita aos meus saraus “culturais” com que brindava a família; as poucas palavras e os muitos silêncios confortáveis, espaço onde me fiz tagarela; os livros e a paixão por eles; de obrigar-me a fundamentar as minhas crenças e ideologias; a não ter medo; a ser auto-suficiente, desde cozinhar a fazer uma ligação eléctrica; a não ter vergonha das origens; a respeitar os outros, sobretudo os mais fracos; a obrigação de ajudar; ensinar-me que somos responsáveis por aqueles que nos amam; a não fazer batota nas cartas e saber perder; a ser honesta; a sentir que a família e os amigos são uma irmandade; não julgar a vida privada das pessoas; a ter dignidade mesmo na lama.
A todos os Pais: a minha gratidão de filha. Um feliz Dia do Pai.