Hoje: dia internacional da Língua Materna
Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ipsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
4 comentários:
Na sequência desta tua lembrança e em resposta áqueles que tentam ver para além do óbvio:
Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho todos os sonhos do mundo
Tabacaria (excerto) - Álvaro de Campos
Ave Caesar
daí que só com Vénus e Baco numa monarquia celestial?
Com esses e com todos aqueles que me quiserem acompanhar nos sonhos.
Com quem caminhas tu, Lua?
Ave Caesar
Oh, meu caro, que lhe poderei responder? Como pista para uma possível resposta, em relação ao meu caminho, as palavras de Holderlin: "Também aqui há deuses e reinam,/ Grande é a sua medida, mas o homem só gosta de medir a palmo."
Vale
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