quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Hoje: dia internacional da Língua Materna

Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ipsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

4 comentários:

Gaius Germanicus disse...

Na sequência desta tua lembrança e em resposta áqueles que tentam ver para além do óbvio:

Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho todos os sonhos do mundo

Tabacaria (excerto) - Álvaro de Campos



Ave Caesar

lua-de-mel-lua-de-fel disse...

daí que só com Vénus e Baco numa monarquia celestial?

Gaius Germanicus disse...

Com esses e com todos aqueles que me quiserem acompanhar nos sonhos.
Com quem caminhas tu, Lua?

Ave Caesar

lua-de-mel-lua-de-fel disse...

Oh, meu caro, que lhe poderei responder? Como pista para uma possível resposta, em relação ao meu caminho, as palavras de Holderlin: "Também aqui há deuses e reinam,/ Grande é a sua medida, mas o homem só gosta de medir a palmo."
Vale