sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

"A Justiça é forte com os fracos e fraca com os fortes" (Marinho)

Na entrevista desta noite, na RTP1, Marinho Pinto colocou, como já nos tinha habituado há uns anos, os pontos nos is. Como tantas vezes o fez, fintando a jornalista Judite Sousa – e permitam-me uma maldadezinha carnavalesca: mulher de Fernando Seara - , Marinho afirmou que aquilo que denuncia não é mais do que o sublinhar de outras denúncias sobre a corrupção, entre elas, a do próprio PR.
A corrupção além de um crime específico é insidiosa, por isso, há sempre um véu de maya que dificulta apontar objectivamente o crime ( a nós, comuns mortais). A corrupção resume-se, muitas vezes, a uma ideia simples de pagamento de luvas com o envelope por debaixo da mesa. O que Marinho nos mostrou foi uma realidade palpável: PDM que mudam por pressão (que nós quase achamos normal), legislações que são elaboradas por advogados/deputados que as manipulam em prol dos seus clientes, favores políticos que desembocam em cargos administrativos em grandes empresas, etc.. Para combater este crime de colarinho branco, que tem consequências maiores do que supomos, faltam meios, dinheiro e, sobretudo, vontade política (Cravinho não foi para Londres porque gosta do clima).
Mas além da corrupção, cancro de todas as sociedades democráticas – embora, em Portugal, se pense que quem finta o sistema é que é esperto e os que têm escrúpulos morais são totós - , Marinho falou também da Justiça portuguesa. Disse quatro coisas, parece-me, muito importantes: os miseráveis 6 euros e 40 cêntimos pagos aos advogados oficiosos (que defendem os mais frágeis da sociedade); as penas de prisão para quem não tem dinheiro para pagar multas; as penas de prisão pesadas para os pobres por crimes menores, pobres que engrossam as prisões portuguesas; e a dificuldade do Ministério Público nas investigações por mau funcionamento da Judiciária, que gere as investigações como bem lhe aprouver e cujos casos prioritários são aqueles que lhe dão visibilidade mediática e os que mostram quantidade de serviço (como as escutas telefónicas).
Marinho, dizem as más línguas, tem um feitio difícil e deve ter tantos fãs como inimigos, entre os quais alguns pares que salivam para lhe morder o pescoço. Com esta entrevista, incendiária (porque Marinho diz o que muitos sabem, mas nunca ninguém foi tão claro para que todos percebessem), os inimigos vão aumentar. Apesar de Portugal ser um país de brandos costumes (não acredito, mas usa dizer-se), muita gente “grande” vai tremer e serão muitos a tentar silenciá-lo.
Por mim, agradeço-lhe a transparência do discurso, sem tartamudear, e a defesa dos mais frágeis… e enviar-lhe-ei a conta do psiquiatra porque presumo, em mim, depressão.

2 comentários:

D'artagnan disse...

Se a justiça fosse feita por mais homens deste tipo de "fibra", teriamos de certeza um Portugal melhor.

Jerico & Albardas, Lda. disse...

É bom que apareça gente desta pronta a partir a louça toda. Que, sem temor do cargo que ocupa, diz aquilo que toda a gente imagina e que alguns conhecem, mas não querem ou não podem dizer.

A esta hora já muitos andam à procura do calcanhar de Aquiles do bastonário, para o calar ou ridicularizar.
O bastonário sentou-se em cima do touro, vamos ver como se aguenta.